sexta-feira, janeiro 09, 2009

Mitos Urbanos X


Stepped on 2008 por Andrew Gallacher

Nos últimos dias tinha estado muito mau tempo. Havia nevado apenas há umas horas. E ainda havia gelo na estrada. Os densos arbustos à beira da estrada eram enganadores. Escondiam uma queda para o vazio.
Ainda mal tinham começado a circular e já se formara uma neblina que reduzia de modo substancial a visibilidade. Que podia ele fazer. Era o décimo aniversário do seu casamento e queria fazer uma surpresa especia là mulher. Levou-a ao pequeno restaurante tão escondidinho à beira de uma estrada complementar, onde tinham celebrado o seu primeiro ano de casamento. Era longe, mas comeram lá tão bem...
A sua mulher estava meio adormecida. Instantes antes tinha insistido para ficarem numa pequena pensão à beira da estrada. As condições da estrada estavam muito perigosas. E ele sempre tinha bebido um pouco mais de vinho do que devia. Mas, lá acabou por concordar com o marido o que o melhor seria regressarem a casa. Pouco passava da meia noite e teriam de se levantar cedo no dia seguinte para irem trabalhar.
Ele lá seguia devagar especialmente atento. De repente alguém se escostou ao vidro do lado da sua mulher. Ela acordou com o susto e gritou. O marido fez o que nunca se faz em condições tão adversas: travou a fundo. Por momentos o carro deslizou e fez um peão na estrada gelada. O carro foi embater num pedregulho à beira da estrada. No máximo, uma amolgadela.
Ele virou-se para a mulher. Ela limitou-se a apontar. No vidro uma mão cheia de sangue. De súbito alguém começou a bater em todos os vidros que encontrava. Ela encolheu-se: "Não saias. Por favor não saias!" "Calma, devem ter tido um acidente e precisar de ajuda. Espera aqui! Fecha as portas!", replicou o marido em todo o seu sangue frio.
Era de facto uma mulher acidentada. Ela tinha uma ferida na cabeça tão grande que escorria sangue dos dois lados da cabeça. Mas o que provocava impressão era mesmo os seus grandes olhos esbugalhados que não pestanejavam. Ela pediu-lhe num sussurro para ele a seguir.
Como é que ela se conseguia orientar às cegas é que ele não conseguia perceber. A meros centimetros dele e ele mal a via, quanto mais encontrar o seu carro. "Ali! Tem de me ajudar. O meu bébé ainda está no carro. Ele está a chorar tanto. Ajude-me". E apontou para uns arbustos, onde, se tivesse atenção suficiente, o homem conseguia perceber que algo grande passara por ali a grande velocidade.
Ele pediu-lhe para ir para junto do carro dele enquanto ele ia procurar a criança. A custo agarrou-se a todos os arbustos que encontrou para não escorregar e cair pela ravina abaixo. Foi descendo até que o seu pé bateu em algo de metal. Era o carro. Tinha batido frontalmente contra uma grande árvore. Era ela que o sustinha de cair. Avançou com cuidado. No banco detrás uma criança chorava. À frente dois corpos. Um homem e uma mulher. Sem dúvida mortos. Tinham absorvido todo o impacto. Devagar retirou o bébé da cadeirinha e com extra cuidado fez o caminho inverso.
Ao chegar ao carro apercebeu-se de que a mulher estava sozinha. "Estive aqui sempre sozinha". Ele entregou o bébé à mulher para que o aquecesse e acalmasse e regressou. No escuro era natural que a mulher do acidente se tivesse desorientado ou talvez regressado ao local do acidente. Desta vez, ouvia apenas o silêncio do mato. Decidiu regressar ao carro.
Voltou às apalpadelas ao longo da estrada até encontrar os arbustos deformados. Desceu até aos destroços do que era antes um carro. Silêncio mortal. Então teve um estranho pressentimento. Abeirou-se do carro. E arranjou coragem para o que ia fazer a seguir. Puxou a mulher morta com a cabeça sangrenta enterrada no volante encostando-a ao banco. Aqueles olhos. Ela nunca tinha deixado o carro...

6 comentários:

Alien David Sousa disse...

Nomyia, este Mito Urbano é mesmo poderoso.Quando o acabei de ler fiquei sem NetCabo.Estou para aí há 15 minutos de volta do meu modem.:/ Será que a mulherzinha pensou que eu fiquei com o bebé e entrou pelo cabo a dentro à procura do puto? Ouch!
Enfim, tu não sabes as saudades que tinha dos teus Mitos Urbanos. São uma assinatura do teu blog e não podes estar tanto tempo sem publicar um. Eu sou fã deles.Confesso que já suspeitava que a senhora estava morta, mesmo assim gosto sempre de ler para saber que surpresas vou encontrar.
Obrigada pela prenda. Ah, e expliquei-te na resposta ao teu comentário o que não entendeste ;)

*****

João disse...

Deste-me uma ideia engraçada para um post, obrigado :)

_+*Ælitis*+_ disse...

Que triste, achei...

Beijo meu ♥,

A Elite

Lu.a disse...

Livra...!! 0.0

Anónimo disse...

meu deus, até me arrepiei a ler!!escreves muito bem*

Rosa disse...

Credo...