sábado, maio 13, 2006

Encontros

Costuma-se dizer que só damos real valor à vida quando temos um encontro com a morte. Eu tive encontro bastante próximo, para aí de cinco metros.
Eu olhava distraída pelo vidro quando ela passou a correr. Ela estava como eu, distraída. Acho que ela não percebeu o que aconteceu e o condutor do carro vermelho também não. Não ouvi o som de um carro a travar. Só ouvi o choque, diferente de qualquer som que já tenha ouvido. Silêncio. Uns segundos depois vejo o caderno dela a voar por cima do meu veículo. O rapaz saiu do carro com as mãos na cabeça que diziam: "o que é que eu fiz?"; "como é que isto me pôde acontecer?"
Quem olhasse para o vidro não diria ser possível que a rapariga pudesse sobreviver. Mas estava viva e a falar, estendida sobre a mochila de escola com os caracóis negros espalhados no alcatrão. Uma multidão juntou-se em poucos segundos a observar a cena. Devem ter sido rápidos a chamar o 112 porque dentro de cinco minutos cruzar-me-ia com as sirenes.
O sinal ficou verde e eu afastei-me. Fiquei a pensar sobre o que acabara de ver. O vidro entrara pelo carro adentro... O sangue na boca dela enquanto falava... Revoltei-me: porque é que ela atravessou ali? Não havia passadeira. Nem sequer prestou atenção. Ela nunca teria hipótese de evitar o acidente... E o condutor também não... Tão novinha... (O raio do caderno a cair e o sangue que não me saiem da cabeça). Pensei e pensei, não consigo explicar. Mas de todos os receios e de todas as dúvidas só uma me faz estremecer. Será que ela vai ficar bem?

2 comentários:

Elisheba disse...

..."estranha forma de vida" esta...

Anónimo disse...

Nunca passei por isso, no entanto, angustiam-m essas coisas... espero k a rapariga esteja bem. Mas sejamos postivos. Há-de estar.(escape psicológico ou tentative de kk coisa semelhante)