Sou caucasiana, enquadro-me perfeitamente dentro da população feminina portuguesa, não tenho qualquer deficiência fisica ou mental (pelo menos que conheça), pertenço à classe média e a nível religioso também não sou muito polémica. Por tudo isto que acabei de descrever poderia afirmar que tive muita sorte. Tipicamente não serei um target de um tipo de discriminação não é? Pois sucede exactamente o contrário. A minha altura e a minha idade. Meço 1,65, acho que nem é alto nem é baixo, nem é carne nem é peixe. E sou... novinha (não se pergunta a idade a uma senhora!)
Ora desde o ensimo primário e muito mais acentuadamente no ensino básico que senti uma diferença muito grande das outras crianças. No quinto ano, eu era uma viga. Leram bem. Era a pessoa mais alta da turma e, sem dúvida, uma das raparigas mais altas da escola. Andava sempre curvada, porque passava a vida a baixar-me para falar com os outros miúdos. E sofria abusos constantes: girafa, pernas de esferográfica, pernas de tesoura, etc. Pois que tinha ainda outra desvantagem: era um palito. Magrinha, magrinha, daquelas que parece que os pais não dão de comer em casa. Mas não venham dizer que as criancinhas não sabem o que dizem porque sabem e bem. O olhar maléfico quando se mandam determinadas ofensas e o prazer que se sente quando o outro fica ofendido não é algo que se ensine.
Adiante. Com 9 anos e no básico pensavam que eu era repetente e chegaram algumas vezes a dar-me 16 anos! E as aulas de educação fisica? Eram uma maravilha. Uma coisa que quer os miúdos quer os professores, não podem no primeiro caso e, não querem no segundo, reconhecer, é que o rápido crescimento do meu corpo não acompanhou a necessariamente mais lenta, coordenação motora duma criança de 9 anos. Então era desengonçada e desajeitada. Coisa com que as crianças se adoravam meter. E os professores não conseguiam perceber como é que aquela miúda alta e magrinha, uma atleta natural, (ó sim, com toda a certeza), podia ser tão desajeitada em todos os desportos e mais alguns! Por isso, adoravam "meter-se" com a última do pelotão, a pior a ginástica, aquela que dava pontapés nas canelas (embora às vezes fosse bem feito) ao invés da bola de futebol, em suma, a pior a tudo! Sei que puxavam por mim, mas o facto de ter sempre os professores em cima de mim, só me fazia sentir mais observada pelos meus pares, mais criticada por eles e mais posta de parte. Nesse aspecto tenho de mandar um agradecimento especial aos meus educadores.
Ah e lembrei-me agora. Ao menos numa coisa era boa. Era a miúda mais fléxivel. Conseguia tocar com as pontas dos dedos nos meus pés e ultrapassá-los em 21 cm. Brilhante. Agora era oficial. Além de tudo aquilo também era anormal. Ainda hoje tenho essa flexibilidade, só que nesta altura, acho que isso é excelente. Mas isso já é outra história. Resumindo, assim foi todo o meu ensino básico.
PS: Depois deste desabafo começo a encontrar potencialidades para escrever as minhas memórias :D
10 comentários:
Junta-te ao clube das magricelas, na primária ( na verdade até ao 9º ano!) a minha alcunha era "pernas de alicate"! :S
Lu.a, nem tudo há-de ser mau! Mas agora já não sou magricelas. sem ser gorda, tmabém já não sou fina como uma lápis. Ganhei curvas :)
Oh, pernas de alicate, pernas de esferográfica, pernas tortas. Invejosos todos!
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Compreendo perfeitamente o teu calvário com educação física e com a margeza. Passei por o mesmo. A magreza, como bem sabes (lol), mantém-se; a inabilidade para o desporto desvaneceu-se com o fim de qualquer actividade que envolva mais do que correr para apanhar o autocarro ou tentar beber o equilíbrio depois de despejar meio litro de whisky.
No entanto, a educação física consegui fazer um brilharete a salto em altura uma vez, e ninguém - nem mesmo eu - soube como. De resto, nunca ninguém gozava muito comigo. Ser um aluno de 18 numa turma de de média de 11 tem as suas vantagens, sobretudo quando há testes e a canalha precisa de quem dê explicações, ou quem passe uma folha de rascunho à socapa. O respeitinho é uma coisa muito bonita :)
Eu era o mais baixo da turma até aos 14 anos lol...Depois não virei gigantone, mas também não fiquei anão ^^.
Tenho mais ou menos a tua altura -1.63 - e uma história semelhante. Cresci imenso. Já na 4a classe era a rapariga mais alta. Quando tinha dez anos deu um salto de 12cms. Só que além de altura, tinha tudo o resto, já começava a ter corpo de adolescente, era até algo gordinha e tinha imenso complexo por já ter peito e as outras raparigas não. Enfim, essa altura foi complicada. Quando tinha 13 anos, chegaram a dar-me 17! Claro que cheguei aos 14 anos e parei. E nessa altura, inverteu-se o processo e os rapazes começaram a chamar-me 'lisa' e 'tábua', os fofos... Depois cheguei aos 20 anos e foi uma alegria, que fiquei com a cara menos redonda e tudo mais fino. Até demais! Nem imaginas a dificuldade que tenho em encontrar um soutien decente para as minhas costas estreitas. Neste momento já ando a ponderar procurar por um 30! lol
Ia dizer que é muito mais fácil ser gajo, mas depois pensei melhor e concluí que, coitados, eles são muito mais ostracizados quando não são bons a desporto.
Bolas, só agora vejo que revelei demasiado sobre mim... lol
Escrever com os olhos a fechar-se dá nisto, em inconsciência
coitados, eles são muito mais ostracizados quando não são bons a desporto.
Acredita... sobretudo quando não podemos recusar um jogo - como nas aulas de educação física...
=P
lol
Lothlorien: No problem. Ainda tenho uma parte II, da minha vida para postar. E não vai ser bonito! Tou a brincar! Mas é bom ver que não sou a única.
Mais segredos e desabafos são bem vindos!
:)
AO menos nao eras indiferente aos outros...
mais vale seres reconhecida do que indiferente :)
mas os tempos de escola são sempre aqueles que marcam mais as nossas memorias...
bons tempos :)
sô dona pernas de alicate ;)
"só que nesta altura, acho que isso é excelente. Mas isso já é outra história."
LoooooooooooL
SIM É!
Se não fosse esta última parte estaria para aqui lavada em lágrimas depois do que li. Ainda há esperança num futuro melhor N.! lol
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