O que vou aqui descrever foi uma experiência REAL realizada em 1965. Para alguns de nós a concepção estava ainda muito longe!
Após a II grande Guerra começaram a ser efectuados estudos sobre a obediência. Estes são tanto mais relevantes quanto entendermos os efeitos terríveis a que uma obediência cega conduziu.
A experiência consistia no seguinte: pessoas eram convidadas a participar num estudo sobre a memorização (falso pretexto). Em seguida, o experimentador explicava-lhes que teriam de fazer perguntas a um outro sujeito que (supostamente) seria o indíviduo estudado. Sempre que esse indivíduo desse uma resposta errada à questão colocada o nosso convidado aplicar-lhe-ia um choque eléctrico. A voltagem iria desde aquele pequeno choque que já todos sofreram pelo menos uma vez na vida aos 450 volts que é o equivalente a... PERIGO MORTAL! Eram dadas respostas erradas de propósito com o objectivo de aumentar a voltagem. Assim, a cada resposta errada o nosso convidado teria a missão de aumentar o choque aplicado! Os dois indivíduos eram colocados em salas separadas de modo que o nosso convidado não visse que não estavam a ser aplicados choques de todo. À medida que aumentava a voltagem o convidado ouvia uma gravação em que ouvia as respostas mas também gritos de dor agonizante.
Por esta altura, devem pensar que a experiência não levanta qualquer problema uma vez que ninguém estava a ser magoado não? A questão não é essa. É importante focar aqui que existiram pessoas que apesar de incomodadas com a agonia da pessoa a quem estariam a provocar sofrimento não pararam a experiência. Tinham o poder de terminar o sofrimento de outra pessoa e o seu próprio desconforto mas não o faziam. Questionavam o experimentador se deveriam continuar e estes dizia-lhes que sim, para continuarem. E assim faziam, agarrados à ideia de que a responsabilidade não era sua mas da pessoa que conduzia a experiência. Afinal, quem é que é punido: a pessoa que prime o gatilho ou a pessoa que mandou premi-lo? Outro aspecto relevante é o facto de só uma pequena percentagem de pessoas se recusar a levar a cabo a experiência ou a terminá-la. Houve ainda quem permanecesse impassível à dor de outro ser humano!
Nesta experiência pioneira 65% dos indivíduos levou esta terapia de choque até ao fim. Cinco anos volvidos, a experiência foi repetida e uns impressionantes 85% dos indivíduos voltou a atingir os 450 volts.
É assustador pensar que nos dias de hoje estes resultados possam ser idênticos e, porque não, piores. Claro que todos diremos que nunca fariamos este tipo de coisas mas é difícil acreditar nisso se tivermos em conta que as pessoas que fizerem parte da experiência eram pessoas simples, pais de família, iguais aos nossos pais, iguais a nós próprios. A obediência cega pode conduzir a actos cegos e pelos vistos vazios de sentido para quem os perpetrua. E cada vez mais perde-se um pouco de fé na humanidade...
4 comentários:
A questão que colocas é interessante.
Responde a isto: quem era mais culpado, o soldado nazi que acompanhava os judeus até aos fornos, ou o superior que lhe dava a ordem? Ou o superior do superior, ou o Hitler?
Na minha opinião nós temos sempre o poder da escolha. O que nem sempre pode ser activado, os soldados nazis não podiam dizer não aos seus superiores, ou podiam?
Um sádico, teria adorado a experiência de que escreveste, eu...não tocaria no botão e pediria para sair...mas isto...sou eu.
Quando dizes que eram pessoas simples, se calhar simples demais para perceberem que estavam a magoar outro ( apesar de o não estarem). Simples de mais e sem coragem para pedir para sair. Ou simples demais...muito simples mesmo...sem uma coisa que dá pelo nome de "empatia".
Fica bem
Alien: Eu não respondo às questões, apenas as levanto. Tentei foi de alguma forma penetrar na mente dos que premiam o botão para tentar compreender o porquê das suas acções. É claro que estou muito longe de poder dizer porque é que estas pessoas fizeram aquilo. Mas acho que se pessoas que em principio fazem compras connosco, partilham os mesmos transportes que nós e mesmos interesses fazem isto porque somos tão diferentes assim que não premiriamos o botão? A minha pergunta é apenas esta. Não quero dizer que premiria o botão mas também não sei se estarei a ser verdadeira ao negá-lo de forma veemente.
PS: Gostei da tua contribuição.
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Que horror...
E tens razão...eram pessoas com família, filhos...as coisasnão mudam: hoje far-se-ia a mesma coisa, infelizmente!
Bjs, BShell
Tenho estado a perder a minha fé na humanidade a uma velocidade alucinante desde há dois anos para cá... aqui está mais uma prova.
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